Como controlar a compulsão das crianças no mundo online

Crianças estão passando cada vez mais tempo diante de telas de dispositivos eletrônicos. Isso não é, necessariamente, uma boa notícia. Entenda e mantenha a situação sob controle.

É fato: crianças e adolescentes passam cada vez mais tempo diante da tela de um smartphone ou tablet. Estar ao lado dele e conectado é um passaporte para estar integrado ao mundo dos amigos e para se distrair. Para muitos, virou um item de sobrevivência, sem exagero, quase tão necessário como a água ou o ar.

Uma pesquisa publicada pelo Hospital C.S.Mott, em Ann Arbor, Michigan, com 350 crianças entre 3 e 5 anos, concluiu que 75% delas ficam pelo menos 2 horas diante de uma tela. “Os adultos não fazem ideia do tipo de conteúdo e dos aplicativos que seus filhos podem estar acessando e que tipo de influência podem ter no seu desenvolvimento”, alerta a pediatra comportamental americana, Jenny Radesky, que coordenou a pesquisa.

E não é só de pornografia, palavrões ou violência que ela está falando. Até a idade adulta é que se desenvolvem as conexões cerebrais entre os diferentes neurônios e são aperfeiçoadas regiões como o lobo frontal, onde são monitorados o controle e o pensamento, e o lobo temporal, no qual se desenvolvem e aperfeiçoam funções cognitivas e sociais.

Um dos piores efeitos que aplicativos podem causar nas crianças, desde as mais jovens, é a dependência no que se chama de gamificação. Joguinhos que condicionam as crianças a se satisfazerem com desafios – e recompensas a cada vez que elas vencem.

E isso é viciante como um hambúrguer do McDonald’s, uma pizza da Pizza Hut ou uma Coca-Cola. Por trás da gamificação há um hormônio, a Dopamina, que dá a sensação de prazer e euforia. Ele é liberado por uma parte do cérebro, o Hipocampo.

Para os adultos, pode estar por trás do vício no cigarro, no prazer pela velocidade ou esportes de risco, no sexo. Para as crianças, é o objetivo atingido em um joguinho do Angry Birds, batendo o seu recorde no Guitar Hero ou matando um inimigo difícil em uma fase de um jogo de luta. Ou ser o cara mais bem-sucedido da turma com um montão de curtidas no Tik-Tok.

Desenvolvedores de jogos e aplicativos sabem muito bem disso, é claro. E não é por acaso que muitos deles buscam a consultoria de psicólogos e neurocientistas. Objetivo: explorar vulnerabilidades como a necessidade de atenção e reconhecimento ou a solidão, por exemplo – ou as recompensas virtuais.

Isso tem vários efeitos, segundo a neurologista Judy Willis. Para começar, aumentam a competitividade. Para cada acerto vem uma recompensa, que pode não acontecer no mudo real. Outra consequência dos games é que podem ter efeitos no autocontrole. Perder passa a ser sinônimo de fracasso e o mundo virtual passa a interferir na vida real.

Além disso, o prazer pelo desafio nos jogos pode causar mudanças no padrão de funcionamento do cérebro. Jogos de ação tendem a melhorar as capacidades visuais e espaciais e os reflexos. Em compensação, jogadores compulsivos perdem a capacidade de interagir com os outros. Longe dos desafios, tendem a ficar mais irritadiços e rabugentos. Mais isolados socialmente, costumam perder a noção de equilíbrio com outras atividades. São capazes de jogar escondidos.

Especialistas recomendam, acima de tudo, que se crie, desde cedo, limites de tempo para os jogos. Ainda que seja um pouco invasivo, até que se estabeleça uma relação de respeito e confiança, os smartphones devem ter horários e locais para serem ligados e acessados. Erga barreiras: não podem ser manuseados durante as refeições, no horário das lições e a partir de um determinado horário, por exemplo. Como tudo na vida, acessar a internet precisa de equilíbrio. “O ser humano é, acima de tudo, humano. E isso presume contato e presença física, mesmo em um mundo cada vez mais digital e com redes sociais”, diz Daniel Domeneghetti, especialista em gerenciamento estratégico e sócio da consultoria E-Consulting.

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A tela certa para cada idade

Associações especializadas em Pediatria recomendam cautela com smartphones, tablets e computadores e com o uso excessivo por crianças e adolescentes. Confira e calibre o uso.

De 0 a 3 anos

Evite exposição de bebês pequenos às telas, mesmo que de forma passiva. Eles não precisam deste estímulo – não têm coordenação motora para manusear os dispositivos. E ainda correm o risco de quebrá-los.

De 4 a 6 anos 

Sempre com a supervisão de um adulto, crianças desta faixa etária podem começar a ser introduzidas ao mundo virtual. Limite o uso de smartphones e computadores a uma hora por dia, com programação de qualidade e apropriada à idade e comunicação com amigos e familiares. Recomenda-se que os pais priorizem atividades criativas e brincadeiras que promovam a interação, longe dos eletrônicos.

De 7 a 9 anos

Esta fase da vida de uma criança é fundamental para a formação da personalidade. Habitue a criança a ler, praticar esportes e a brincar fora da internet: praticar qualquer atividade física e brincar. Mas, não vale trocar internet por televisão, Ok? Evite o uso compulsivo desde cedo. Para começar, tire dispositivos dos quartos das crianças!

De 10 a 12 anos

Aqui, os conselhos são dois: 1) Evitar o isolamento da criança em uma bolha virtual; 2) Estabelecer limites de uso. Três horas de internet por dia, é o aconselhável. Alterne o uso do smartphone com outras atividades. Se ainda não tirou, tire dispositivos dos quartos das crianças! Continue de olho no uso compulsivo de dispositivos.

De 13 a 15 anos

O principal problema nesta fase é quando o uso da Internet é feito sem controle. O uso deve ser feito usando o bom senso: fora das refeições, por exemplo. Deixar que o uso dos dispositivos avance pela noite adentro é sinônimo de sono ruim, fadiga, irritação e problema de concentração. Monitore as crianças no uso das redes sociais, inclusive, crie um perfil e acompanhe as atividades. Considere instalar um aplicativo de controle parental nos celulares das crianças.

De 16 aos 18 anos

Segundo uma pesquisa do aplicativo AppGuardian, adolescentes passam 5,7 horas grudados nas telas dos seus celulares: é muito! Além do uso excessivo dos dispositivos eletrônicos, fique de olho em conteúdos com teor de violência, exploração sexual, nudez, pornografia e com quem seu filho anda trocando mensagens ou chats. Converse e implante o regime de “minha casa, minhas regras”, seja para o conteúdo como para os horários de uso. E seja rígido com suas próprias normas.

*Fontes: Sociedade Brasileira de Pediatria, Academia Americana de Pediatria, Sociedade Canadense de Pediatria, Associação Francesa de Pediatria

 

 

 

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